17/01/2010

INVERNO VS VERÃO NOS AÇORES















OS AÇORES SÃO UM ARQUIPÉLAGO TRANSCONTINENTAL
SITUADO NA CRISTA MÉDIA ATLÂNTICA, NUMA REGIÃO
GEOGRÁFICA CONHECIDA COMO MACARONÉSIA, UM
NOME DE ORIGEM GREGA (“MAKARÒN” QUE QUER DIZER
“FELIZ” E “NESOI” DE “ILHAS”) QUE SIGNIFICA ILHAS FELIZES
OU AFORTUNADAS, E DA QUAL FAZEM PARTE TAMBÉM
OS ARQUIPÉLAGOS DA MADEIRA, INCLUINDO AS ILHAS
DESERTAS, DAS CANÁRIAS E DE CABO VERDE, TODOS ELES DE ORIGEM VULCÂNICA.

Devido a um conjunto de factores, estes grupos de ilhas reúnem características biológicas e geológicas únicas no Mundo e apresentam um elevado número de espécies endémicas,constituindoum“oásis”nomeio do Oceano Atlântico.
O arquipélago açoriano é composto por nove ilhas divididas por três grupos: Ocidental (Flores o Corvo), Central (Pico, Faial, São Jorge, Graciosa e Terceira) e Oriental (São Miguel e Santa Maria).

PESCA SUBMARINA NOS AÇORES
As suas zonas costeiras rochosas de extrema beleza, aliadas a uma temperatura de água amena e boas visibilidades, permitem condições de mergulho das melhores do Mundo. Depois de ter tido o privilégio de mergulhar em sítios muito bons, os Açores continuam a figurar no topo da minha lista de preferências.
Todas as ilhas possuem excelentes condições para a prática de pesca submarina podendo encontrar, em qualquer uma, razões de sobra para se aventurar no azul.
Na minha opinião, a melhor altura do ano para
a prática da modalidade situa-se entre os meses de Junho a Setembro, quando as temperaturas da água do mar variam, aproximadamente, entre os 18º e os 23ºC. Sendo Agosto e Setembro os meses de águas mais quentes devido à aproximação da corrente do Golfo.
Não quer isto dizer que, mesmo durante o Inverno, não se encontrem belíssimas condições para pescar.
Certamente que haveriam vários pescadores submarinos açorianos capazes de melhor aconselhar quem desejasse vir aos Açores. Porém, não poderia deixar de transmitir, já que me foi dada esta oportunidade, alguns dos conhecimentos que adquiri através das inúmeras vezes que mergulhei nestas águas.

INVERNO VS VERÃO
Vamos abordar a pesca submarina nos Açores em duas épocas distintas. No Inverno e Primavera, que abrange os meses de Novembro a Maio; e nos meses de Verão e Outono, de Junho a Outubro. Nestas épocas do ano temos diferenças nas condições do mar, nas espécies encontradas e até no equipamento.

INVERNO E PRIMAVERA
Nesta época do ano, apesar de a água se encontrar mais fria, a rondar os 16-18ºC, não são raros os dias em que podemos “molhar o fato”, assim o mar o permita. Temos de ter presente que se tratam de ilhas e que, dependendo da orientação da ondulação e do vento, podemos, quase sempre, encontrar um recanto de costa onde as condições sejam mais favoráveis. A visibilidade varia, na maioria dos dias, entre os 10 e os 20 m, e a pesca realizada é de um modo geral costeira.

ESPÉCIES
Com o decréscimo da temperatura do mar muitos dos peixes, quase sempre presentes durante o Verão, rumam para outras paragens, atrás da água mais quente e os encontros com as espécies pelágicas como lírios, enxaréus, serras, anchovas, bicudas, entre outros, deixam de ser comuns e passam a ser pontuais.
Focamo-nos em peixes mais sedentários, como as abróteas, garoupas, sargos, safi os, tainhas e os tão procurados rocazes (Scorpaena scrofa).
Estes são da mesma espécie dos rascassos e vivem em cotas que podem chegar aos 500 m de profundidade, mas nesta altura do ano tornam-se mais comuns às profundidades por nós frequentadas.
Claro que, quando estamos dentro de água, podemos estar à espera de “quase” tudo e poderá acontecer cruzarmo-nos com um qualquer peixe, mesmo fora da sua época mais habitual.
Outro grande atractivo desta altura do ano são as lagostas, quase sempre grandes, e que fazem a nossa delícia, quer na captura, quer mais tarde em casa, na mesa. De notar que existe Legislação Regional específi ca que nos proíbe a captura de qualquer exemplar de 1 de Outubro a 31 de Dezembro, e de exemplares ovados (fêmeas) de 1 de Janeiro a 31 de Março. Esta Lei visa proteger a espécie, e muito bem, na sua altura de reprodução.

ESCOLHA DO FATO
Na minha opinião, o fato de mergulho que mais se adequa à pesca submarina no Inverno é um casaco de 7 mm e umas calças de 5 mm. Claro que existem muitas condicionantes nesta opção, como: a temperatura da água, a resistência ao frio, o tempo de mergulho, a profundidade a que pescamos e o tipo de pesca praticada. No entanto, penso que é o fato mais polivalente, ao qual poderemos juntar um colete de 3 mm ou trocar as calças por umas de 7 mm.
Camufl ado ou não? Acho que os fatos camufl ados têm mais a ver com o nosso gosto do que com o dos peixes, mas poderá fazer diferença em alguma situação pontual. Pessoalmente, uso um camufl ado verde-claro que resulta bem para este tipo de fundo, mas não creio que seja fundamental


ESCOLHA DA ARMA
Quanto às armas, e sendo esta uma pesca praticada muitas vezes ao buraco, as que mais uso são a de 90 e de 100 cm. A escolha da arma de 100 cm poderá parecer exagerada a quem não está familiarizado com esta pesca, mas visto que os buracos são, muitas vezes, amplos, um alcance um pouco maior pode fazer falta, e temos uma arma mais válida para apanhar um peixe em água livre.
Outra das armas que uso, embora muito menos, é a de 120 cm, para quando a água está muito limpa e para pescar quase exclusivamente em água livre, à espera.
Importa dizer que todas elas estão equipadas com carreto. Este pode servir para marcar uma pedra, em caso de necessidade, ou no caso de aparecer um peixe maior, ou do arpão fi car preso.
Temos sempre uma margem de segurança do nosso lado, abrindo o carreto e mantendo o contacto físico com a arma.

ESCOLHA DAS BARBATANAS
Quanto às barbatanas, não tenho qualquer dúvida em aconselhar as de carbono por todas as vantagens que apresentam, comparativamente às de outros materiais.
Sendo a pesca praticada maioritariamente a profundidades médias e altas, obviamente que o rendimento que poderemos tirar de uma barbatana mais nervosa e reactiva é para nós uma mais-valia. Permitem uma natação confortável à superfície e um bom impulso ao “descolar” do fundo, com um menor esforço do que se usássemos umas barbatanas de fi bra ou de plástico.
A principal desvantagem destas barbatanas é o preço. Com uma diferença notável em relação às outras, acho porém que valem o investimento.
As suas características, aliadas a uma espantosa durabilidade e fi abilidade, fazem delas, sem dúvida, a escolha acertada.
Quanto ao resto do material é o normal usado no “dia-a-dia”.

VERÃO E OUTONO
Esta é quanto a mim, tal como referi anteriormente, a melhor época. A água começa a aquecer lentamente, variando entre os 18 e os 23ºC, aproximadamente, e chegando ao seu máximo nos meses de Agosto e Setembro. Com o aumento da temperatura surge também um sem número de peixes “azuis”, capazes de nos fazerem perder o sono.
Além do aumento da temperatura, também as visibilidades melhoram consideravelmente, podendo chegar, nos melhores dias, aos 30 metros de um azul-escuro translúcido.
As condições são, de um modo geral, melhores.
Até porque a altura média de ondulação é muitoinferior,  permitindo-nos visitar alguns sítios mais expostos às ondulações predominantes.
Além da pesca costeira, também ela realizada durante o Inverno podemos, se tivermos condições para tal, visitar alguma das baixas que existem em todas as ilhas.

ESPÉCIES
Devido ao aumento da temperatura da água, muitas são as espécies que se aproximam destas
costas. Entre elas toda uma variedade de peixes pelágicos, atraídos quer pela água maistemperada, quer pelo aumento signifi cativo do alimento disponível.
Além dos emblemáticos lírios, enxaréus, bicudas, anchovas e serras, também os grandes pelágicos por cá passam. Wahoos, dourados, espadins azuis, espadins brancos e atuns de todos os tipos, podem fazer de mais um dia de mar uma experiência marcante e inesquecível.
Outro peixe carismático e sempre presente nestas águas é o mero. No entanto, a sua captura é vedada à pesca submarina devido a uma legislação infundada, discriminatória e desactualizada.
Lei esta que foi criada porque os meros corriam risco de extinção!
O que é totalmente falso. Se o objectivo era proteger esta espécie não é certamente proibindo a pesca submarina que isso acontece. Veja-se a quantidade destes peixes que todos os anos passam nas lotas deste arquipélago. Não estou a dizer que se deva vedar a sua apanha à pesca profissional, pelo contrário, não vejo é qual o sentido de proibir a mais selectiva e sem impactos colaterais de todas as pescas.
O objectivo, creio sim, foi proteger interesses económicos de grupos que manipulando a imagem de um animal selvagem, fi zeram crer a quem não sabe como realmente são as coisas que este é um peixe dócil e que se aproxima dos mergulhadores. O que, mais uma vez, é falso. Importa distinguir que uma coisa é um animal com comportamentos condicionados, como existe, por exemplo, nos circos; e outra é um animal selvagem. Já muito se escreveu e discutiu sobre este assunto. Pessoalmente, mantenho a esperança que, no futuro, a população seja mais esclarecida em relação ao que é a pesca submarina e que a captura de um mero volte a ser permitida, respeitando obviamente regras de conservação adequadas à realidade.

ESCOLHA DO MATERIAL
Quanto ao material, as únicas peças que mudo em relação às usadas no Inverno são o fato e algumas alterações nas armas.
O fato passa a ser mais fi no, optando por um de 5 mm completo, ao que junto um colete de 3 mm para pescar a maior profundidade, devido à temperatura da água no fundo e à compressão sofrida pelo material.

ESCOLHA DA ARMA
Relativamente às armas, depende, obviamente, daquilo que estamos a pensar fazer, mas acho que o tamanho que reúne melhor relação entre a manobrabilidade e o alcance de tiro é o de 120 cm. É, sem dúvida, a arma que mais uso. Isto porque a água tem, na grande maioria dos dias, boa visibilidade e quando é preciso temos sempre um tiro útil mais longo, o que fará a diferença em alguns peixes mais esquivos.
As outras medidas que uso são as de 100 cm para pescar na borda de água e a de 150 cm para pescar a peixes pelágicos. Em todas uso dois pares de elásticos e duas voltas de fio na maior.

OUTRO EQUIPAMENTO
Outra peça que considero importante é o teaser, um chamariz que, se as condições forem as mais apropriadas, nos poderá levar ao sucesso nalgum lance.
Carreto ou trail-line? Mais uma vez, a minha experiência diz-me que um carreto com boa capacidade de fi o, 50-70 metros, que seja funcional, chega perfeitamente para a grande maioria dos casos que encontramos na pesca costeira, para peixes até médio porte. Porém, se a nossa ideia se focaliza nos grandes pelágicos, como os grandes lírios, wahoos, atuns ou espadins, aí, certamente que a opção válida é o trailline ligado a bóias com um ou mais bungees.
Quanto ao material de substituição e mais consumível, como fi os, sleeves, arpões e tudo o que mais precisar, todas as ilhas têm lojas da especialidade, onde pode também obter alguma informação acerca dos locais de mergulho.












PESCA SUBMARINA DE BARCO
A utilização de barco é sempre um bom apoio onde podemos descansar, transportar algum material suplente, colocar o peixe capturado e comer ou beber algo. É, sem dúvida, um bom meio de chegar a locais de mais difícil acesso e, portanto, menos pescados, poupando-nos de grandes percursos à barbatana onde, por vezes, a corrente poderá estar presente.
Não se pense por isto que não se mergulha a entrar pela costa. Em todas as ilhas existem temperada, quer pelo aumento signifi cativo do alimento disponível.
Além dos emblemáticos lírios, enxaréus, bicudas, anchovas e serras, também os grandes pelágicos por cá passam. Wahoos, dourados, espadins azuis, espadins brancos e atuns de todos os tipos, podem fazer de mais um dia de mar uma experiência marcante e inesquecível.
Outro peixe carismático e sempre presente nestas águas é o mero. No entanto, a sua captura é vedada à pesca submarina devido a uma legislação infundada, discriminatória e desactualizada. Lei esta que foi criada porque os meros corriam risco de extinção!
O que é totalmente falso. Se o objectivo era proteger esta espécie não é certamente proibindo a pesca submarina que isso acontece. Veja-se a quantidade destes peixes que todos os anos passam nas lotas deste arquipélago. Não estou a dizer que se deva vedar a sua apanha à pesca profi ssional, pelo contrário, não vejo é qual o sentido de proibir a mais selectiva e sem impactos colaterais de todas as pescas.
O objectivo, creio sim, foi proteger interesses económicos de grupos que manipulando a imagem de um animal selvagem, fi zeram crer a quem não sabe como realmente são as coisas que este é um peixe dócil e que se aproxima dos mergulhadores. O que, mais uma vez, é falso.
Importa distinguir que uma coisa é um animal com comportamentos condicionados, como existe, por exemplo, nos circos; e outra é um animal selvagem.
Já muito se escreveu e discutiu sobre este assunto.
Pessoalmente, mantenho a esperança que, no futuro, a população seja mais esclarecida em relação ao que é a pesca submarina e que a captura de um mero volte a ser permitida, respeitando obviamente regras de conservação adequadas à realidade.


ESCOLHA DO MATERIAL
Quanto ao material, as únicas peças que mudo em relação às usadas no Inverno são o fato e
algumas alterações nas armas.
O fato passa a ser mais fi no, optando por um de 5 mm completo, ao que junto um colete de 3mm para pescar a maior profundidade, devido à temperatura da água no fundo e à compressão sofrida pelo material. excelentes locais de mergulho de fácil acesso a partir de terra.


CUIDADOS
Estando os Açores situados no meio do Oceano Atlântico é natural que, tubarões de várias espécies, façam parte da vida marinha local. Apesar de em muitos anos, felizmente, nunca ter visto um tubarão de grande porte, nunca sabemos quando poderá aparecer algum.
Todos os que vi até hoje foram pequenos e sempre muito desconfi ados, não permitindo sequer uma aproximação e desaparecendo de imediato para fora do meu alcance de visão. Sinceramente, acho que eles nos vêem mais do que nós a eles, mas por algum factor não se aproximam.
Provavelmente andam bem alimentados.
Assim sendo, aconselho a que não se ande com peixe à cintura, pois existem vários relatos de peixe comido quando é colocado na bóia de
sinalização e… mais vale prevenir.
Outro cuidado importante diz respeito a dois tipos de medusas. As águas vivas, Pelagia noctiluca, e as caravelas portuguesas, Physalia physalis. Ambas possuem células urticantes especializadas, chamadas cnidoblastos, que servem para “caçar” as suas presas, injectando
um veneno que as paralisa.
No ser humano as suas “picadas” podem causar dores terríveis associadas a queimaduras mais ou menos graves. No caso de haver contacto, aconselha-se o uso imediato de um anti-histamínico e, dependendo da extensão da lesão, recorrer aos cuidados médicos.


DEVERES
Em qualquer sítio em que mergulhamos devemos, previamente, informarmo-nos acerca das regras locais. Os Açores têm uma legislação específi ca para a pesca lúdica, na qual está inserida a pesca submarina. Nesta destacam-se limites de captura, espécies proibidas, áreas protegidas e períodos de defeso. É obrigatória
uma visita à Capitania ou Delegação Marítima local a fim de recolher toda a informação necessária.


Em Nome da Equipa Azoresub, agradecemos ao André Domingues por nos ter cedido este artigo! Boas caçadas 2010



3 comentários:

Décio Leal disse...

Excelente.
Que venham águas mornas porque neste momento está muito fria (15º).

Abraço

Álvaro disse...

Moi boa información. Debe ser precioso.

Saúdos

PêJotaFixe disse...

Amigos,
Muito bom artigo! É pena, no caso dos Meros, serem só os profissionais de barco a puderem capturá-los. Aqui no Algarve e Alentejo acontece o mesmo com o defeso do Sargo. É só para alguns, infelizmente...

Abraço e saudações piscatórias

Direção

Tibério Barbeito e Zeferino Espínola Contacto: azoresub@hotmail.com

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